A PLUTOCRACIA DISFARÇADA DE DEMOCRACIA, EVOLUINDO A CLEPTOCRACIA
SOCIEDADE E PODER - 16/03/2016
A plutocracia (do grego ploutos: riqueza; kratos: poder) é um sistema político no qual o poder é exercido pelo grupo mais rico. Do ponto de vista social, esta concentração de poder nas mãos de uma classe é acompanhada de uma grande desigualdade e de uma pequena mobilidade. A plutocracia exerce presença real quando os representantes políticos atendem interesses apenas daqueles que os apoiaram financeiramente no processo eleitoral, deixando de ser o cargo político uma representação do povo.
Ainda que a plutocracia não exista oficialmente como forma de governo, ela se sobrepõe à democracia, principalmente nos países pouco desenvolvidos, graças à legislação eleitoral, que permite o financiamento de campanhas políticas pelos detentores do poder econômico. Financiados por essa elite empresarial, os políticos governam não para o povo, o que caracterizaria uma democracia, mas sim para a elite econômica, o que caracteriza a plutocracia. Todas as propostas que fortalecem cada vez mais as grandes empresas são aprovadas sem que o povo se aperceba, com a ajuda inclusive de outros políticos corruptos que vendem seus votos, bem como da grande mídia comercial e corporativa, que não dá a essas propostas a cobertura que deveria. A plutocracia tem características de regimes totalitários, pois o poder emana de uma única fonte: o dinheiro.
A plutocracia é mais uma das situações políticas que podem existir dentro de um sistema político vigente. Como é o caso também da cleptocracia que significa governo de ladrões, tendo em vista que a corrupção é elemento sempre presente. Cleptocracia, é um termo de origem grega, que significa, literalmente, “Governo de ladrões”, cujo objetivo é o do roubo de capital financeiro dum país e do seu bem-comum. A cleptocracia ocorre quando uma nação deixa de ser governada por um Estado de Direito imparcial e passa a ser governada pelo poder discricionário de pessoas que tomaram o poder político nos diversos níveis e que conseguem transformar esse poder político em valor econômico, por diversos modos. A fase “cleptocrática” do Estado ocorre quando a maior parte de sistema público governamental é capturada por pessoas que praticam corrupção política, institucionalizando a corrupção e seus derivados como o nepotismo, o peculato, de forma que estas acções delitivas ficam impunes, por todos os sectores do poder estarem corrompidos, desde a Justiça, os funcionários da lei e todo o sistema político e económico.
Os atuais regimes democráticos espalhados pelo mundo na verdade são plutocráticos, estão apenas mascarados e assim mantidos pela principal ferramenta de manipulação e poder dessa classe dominante - a mídia comercial e corporativa. Não temos a democracia, temos a plutocracia, o poder dos ricos, o poder de quem tem o dinheiro, os multinacionais. (José Saramago, escritor português, premio Nobel de Literatura de 1998)
UMA ENTREVISTA COM O ESCRITOR JOSÈ SARAMAGO:
Pergunta - QUAL A SUA CRÍTICA QUANTO À DEMOCRACIA ATUAL?
José Saramago - Os governos que elegemos, no fundo, são correias de transmissão das decisões e das necessidades do poder econômico, e os governos não só funcionam como correias de transmissão, mas também como os agentes que preparam as leis, como as que levam ao emprego precário. Vivemos dentro de uma bolha, que eu chamo de bolha democrática, onde tudo funciona perfeitamente. Somos eleitores, há eleições, votamos, forma-se um parlamento, e a partir desse parlamento, forma-se uma maioria parlamentar. Temos os juízes, tribunais, temos todo o esquema montado. Se não está satisfeito com o governo atual, nas eleições seguintes pode tirar este governo e por outro, que isso traz mudanças sim. Mas mudar de governo não significa mudar o poder, e este é o drama da democracia
O drama está aí. O poder econômico sempre existiu, o poder político sempre esteve ligado a ele, sempre existiu um concubinato entre esses dois poderes. Mas os cidadãos estão aqui embaixo. E como eles poderiam expressar suas angústias, dúvidas e necessidades junto a este poder econômico? Em príncipio, seria através do mesmo governo que serve de correia de transmissão. Mas não podemos ter qualquer esperança de que esses governos digam ao poder econômico, representado hoje pelo FMI, que as condições que vocês nos impõem são terríveis. Há um problema, que na minha opinião, é fundamental da democracia: ou ela transcende o poder da tal bolha que falei, tendo uma ação fora dela, ou vamos continuar a viver na ilusão do mundo democrático. Hoje em Portugal podemos comemorar a revolução que acabou com a ditadura fascista e nos trouxe a democracia, mas evidentemente tenho de acrescentar que não ficaram rigorosamente nada daquelas idéias de transformações sociais. E, pior ainda, digamos que passamos de um momento histórico da vida portuguesa, onde as pessoas eram capazes "de construir seu próprio futuro" para um momento de apatia total.
Nós vivemos numa plutocracia, um governo dos ricos, e são eles que governam. Aristóteles dizia que em um governo democrático, os pobres deveriam ser maioria, porque são em maior quantidade que os ricos. Dizia ele, inocentemente, que era só uma questão de respeitar a proporção. Mas isso já aconteceu alguma vez? Claro que não. Se criarmos um partido pobre, ele não duraria muito tempo, porque um partido pobre não tem muita coisa para prometer.
Pergunta - A SOLUÇÃO PODE VIR DOS MOVIMENTOS SOCIAIS?
JS - Não, os movimentos sociais não avançam todos na mesma direção, ao mesmo tempo, para reinvidicar a mesma coisa. Sabemos que não é assim. Mas temos que levar em conta que o poder econômico está organizado. Os movimento sociais não aparecem juntos. Claro que propõem alternativas, isto é o mais fácil, mas enquanto elas não forem colocadas à prova, não sabemos o que elas valem.
FONTE: http://www.cartamaior.com.br/